Blog do Curso de Formação de B-girls, promovido pelo Núcleo de Mulheres da Rede Aiyê Hip Hop em parceria com o Fundo Ângela Borba de Recursos para Mulheres.

APOIO:
- Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO-UFBA)
- Fundação Cultural do Estado da Bahia
- Teatro Gregório de Matos
- DJ Silada (logomarca do curso)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O CURSO NA MÍDIA

Mãe, quero ser b-girl!
23/01/2008 às 08:39


Luigi Piccolo

Elas estão sentadas pela galeria de arte, tranqüilas ou conversando em pequenos grupos. Algumas ainda assinam apressadas as fichas de inscrições sobre o galpão da entrada do Teatro Gregório de Mattos. Ao todo são 48 garotas a espera do início da seleção que irá apontar as 25 futuras B-Girls do curso de dança de rua oferecido pelo Núcleo de Mulheres da Rede Aiyê de Hip Hop e apoiado pelo Fundo Ângela Borba de Recursos para Mulheres.

As selecionadas no último dia 16 vão participar do curso, voltado para mulheres jovens com mais de 14 anos, moradoras de bairros periféricos de Salvador. Durante doze encontros, nos sábados de janeiro a abril, elas vão aprender o básico para serem B-girls, do break a dança de rua.

Surgidas na década de 60, a dança de rua e o break dance são criações da juventude negra latina dos Estados Unidos. O contexto político era a guerra do Vietnã, no mesmo momento em que a comunidade negra lutava por direito civis.

Justina Landim, 19, que não foi selecionada, mora em Amaralina, já dança break e tem até o próprio coletivo, o Estilo Brasil Crew. Ela conta que está interessada no "certificado de B-girl" que vai receber no final do curso e também na formação do grupo que irá participar de competições".

Convocadas para a seleção pelo orkut, divulgação por escolas ou no velho boca a boca, as futuras B-girls passaram durante 2h30 por aulas de alongamento, abertura e passos básicos de break, sempre observadas pelas juradas.

Uma delas, a pesquisadora Zelinda Barros, 33, do Centro de Estudos Afro-Orientais da Ufba [CEAO] acredita que o curso pode democratizar o hip hop. "Dando visibilidade às B-girls, onde normalmente só vemos B-boys, conseguiremos resgatar a questão de gênero a um espaço predominantemente masculino".

Após passarem pelo "aulão", as inscritas contaram um pouco sobre suas impressões e sobre sua vida. As vinte cinco selecionadas foram escolhidas por critérios diversos, entre eles a renda familiar, engajamento social e também a "atitude", a forma de se expressar com o corpo.

Natália Koques, 14 anos, moradora de Plataforma, foi uma das selecionadas. Ela diz que o interesse pelo hip hop surgiu ao ver dançarinas no video. "Minha mãe tem uma colega no CEAO e ela falou sobre o curso, como eu me interesso pela cultura negra, eu resolvi participar". Natália acha que a presença da mãe ajudou a superar o nervosismo. "Ela até dançou um pouco do meu lado".

Moradora da Liberdade, Jéssica Brito, 16 anos, já frequentava bailes de hip hop antes de se inscrever e ser selecionada para o curso da Rede Aiyê. "Ia para as festas, mas não sabia dançar e me interessava pelo break", afirma. A falta de habilidade com a dança foi superada pelo "interesse que demonstrou na seleção". "Quero mostrar o que a mulher sabe fazer, combater o racismo antes de dançar e através da dança", diz Jéssica, ciente da tarefa que o grupo terá que enfrentar.

É essa a postura que uma B-girl deve ter antes mesmo de encarar o curso pelo aspecto lúdico, diz Zelinda Barros. "Através do corpo, que também é uma forma de fala, pode-se abalar as estruturas mentais. Não estamos aqui só pela dança, somos mulheres, negras e pobres, mas cientes de que é preciso se empoderar para mudar".


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O leitor há de se perguntar: por que uma matéria sobre uma seleção ocorrida na quarta-feira passada está sendo postada hoje no blog? É que iríamos publicar o texto na edição de ontem do Dez!, mas não conseguimos fotos com boa resolulção.
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Edited by Zelinda Barros